sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

UM ANO NOVO PAI DÉGUA! Autor: Merlânio Maia


UM ANO NOVO PAI DÉGUA!
Merlânio Maia


Desejo um ano porreta
Deus lhe dê tudo o que quer
Peleja, trabalho, treta,
Os carim duma mulher
Desarrede o negativo
Abufele o positivo
Tenha o horizonte por régua
Num tenha medo da vida
Tenha o céu como medida
E um sucesso pai dégua!

Macho véi, felicidade,
É pra se pegar de unha
Num aceite a falsidade
Que é onde a maldade acunha
Num se agonie no camim
Nem permita o farnizim
Num esmoreça seje macho
Corra o mundo, ande légua
E até na baixa da égua
Que o buraco é mais embaixo

Vá anotano os seus querê
Tudo o que você deseje
Dipendure onde se vê
Leia pra que num fraqueje!
Seja um cão chupano manga
Teja de terno ou de tanga
Nunca espere vá buscar
Persistência atrai sucesso
Que vai fazer seu progresso
Quando menos se esperar

No amor num se arrelie
Nem só fique arrodiano
Num bata fofo, se avie
Se avexe e faça um bom plano
Mas fique limpo na nota
Num pegue qualquer marmota
Nem viva de fulerage
Cachorro é quem pega peba
Num viva de mistureba
Nas grota da vadiage

Amor é uma corralinda
Mas num seje um farofêro
Num peça pinico ainda
Seja o galo do terrêro
Pastore que a hora chega
Gato gosta é de mantêga
Dê seu bote devagar
Mas dêxe as unhas de fora
Que o seu cabresto tóra
Antes do ovo gorar

Comece esse novo ano
Sem os erros do passado
Chô mundiça! É o novo plano
Chame a sorte pro seu lado
Muche as orêia e rebole
No mato tudo que é mole
Grite do alto do nordeste
- Eu sou herdeiro de Deus
E os mundos também são meus
Oxente, cabra da peste!

Agora qui tás mais forte
Seje feliz dicumforça
Nosso Sinhô sendo o norte
Brinque, dance, grite e torça
Nada há de lhe derrubar
Comece logo a sonhar
Com a Paz e nunca dê trégua
O poeta ainda lhe diz
CABRA VÉI, SEJE FELIZ,
E UM ANO NOVO PAI DÉGUA!

sábado, 25 de julho de 2009

O ANJO-MARIA





O ANJO-MARIA
Merlânio Maia

Um dos casos mais tocantes que vi no nosso trabalho da Cia. Do Boneca de Lata, foi o de Maria.

Maria era uma menina de apenas três anos, que, depois de muito sofrimento no sertão da Paraíba, teve o diagnosticado o câncer nos intestinos e, buscou tratamento no Hospital Napoleão Laureano, hospital referência na região nordeste, e foi ali que a conheci.

Maria era de uma personalidade forte, de um olhar meigo, carinhoso e, por essas e outras coisas, profundamente amada.

Seus pais são sertanejos, sitiantes, cuja família consistia de pai, mãe e duas filhas, Maria e Mariana e a estrutura daquela família era de dar inveja a todos. Pelo muito que se amavam sem vergonha de demonstrar que se cuidavam com muito carinho e de uma forma profunda.

Tive oportunidade de conversar muito com Luiz, o pai e para eles a família é a coisa sagrada que existe na vida, conceito apropriado para a célula familiar.

Desde a sua chegada no primeiro tratamento que Maria ficou muito ligada ao Boneco de Lata. Lembro que ela chegara desidratada, com a barriga imensa, sentindo muitas dores e o seu pai fervoroso não parava de pedir ajuda a Deus. Maria olhou-me com um olhar profundo agonizante e eu lhe perguntei se gostaria que eu tocasse uma música e ela apenas balançou a cabeça afirmativamente.

A partir dali nasceu nossa amizade até o fim.

Assim foi passando o tempo de tratamento, ela ia para sua casa e voltava, entre alegrias e tristezas, cantos e contos, nossa amizade se consolidou e tivemos muitos momentos intensos em que ela e a sua família muito me ensinaram sobre a fé ante o sofrimento.

Quando Maria completou cinco anos, foi para o sertão e perdi um pouco o contato com eles, até que num sábado, chegamos ao hospital e fizemos nossa visita inicial e a encontramos lá, mas muito mal, sequer abriu os olhos, apesar de Luiz ter dito a ela eu estava ali do seu lado. Falei baixinho que a amava e fui fazer meu trabalho de cantoria com as outras crianças.

Terminado a cantoria, voltei ao leito de minha pequena amiga e o que presenciei jamais poderei esquecer.

Maria acabara de falecer.

Todos choravam!

Então vi seu pai pegá-la nos braços e elevando-os em oferenda para o alto dizia com a voz embargada:

- Olha, Meu Deus, aqui está o teu anjinho que um dia me presenteaste e que me fez tão feliz, Senhor, te devolvo este presente lindo, para que ela possa ser feliz ao teu lado sem dor e nem sofrimento. Obrigado meu Pai, por este lindo anjinho. Vem receber, meu Senhor e faz ela feliz no Teu reino de luz e paz...

E caiu num choro doloroso, acompanhado por todos que ali se encontravam.

Mas confesso a você, caro leitor, que até agora, ainda me comovo só com a lembrança daquela cena em que o pai devolvia o seu anjo a Deus. O Anjo-Maria.

(Alertamos ao leitor que o caso é real, só mudamos os nomes, Luiz e Maria, por questões óbvias de proteção desses nossos amigos.)

terça-feira, 23 de junho de 2009

MEU ANJO




MEU ANJO

Artigo do Dr. Rogério Brandão
Médico oncologista clinico
RC Recife Boa Vista D4500

Médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional, com toda vivencia e experiência que o exercício da medicina nos traz, posso afirmar que cresci e me modifiquei com os dramas vivenciados pelos meus pacientes.
Dizem que a dor é quem ensina a gemer.
Não conhecemos nossa verdadeira dimensão, até que, pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além. Descobrimos uma força mágica que nos ergue, nos anima, e não raro, nos descobrimos confortando aqueles que vieram para nos confortar.

Um dia, um anjo passou por mim...

No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos surpreendem como suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias verdades.

Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer nossos limites!

Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.

Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim.

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia.

Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso para eu ficar boa.

Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

Meu anjo respondeu:
- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando agente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?
(Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo: - E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!

Um anjo passou por mim...

Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.

Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo, que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.

Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinastes, pela ajuda que me destes.

Que bom que existe saudades! O amor que ficou é eterno.

Rogério Brandão
Médico oncologista clinico
RC Recife Boa Vista D4500
Cremepe 5758"

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

BONECOS DE LATA COM MUITA HONRA! - por Merlânio Maia

BONECOS DE LATA COM MUITA HONRA!
Merlânio Maia

O hospital estava cheio de pacientes. Havia um burburinho natural de seres humanos quando se reúnem.

Eu e Raquel, chegamos para uma reunião com o Diretor do Hospital, sobre um projeto junto a Caixa Econômica Federal.

De repente, lá da recepção ouvi um grito melodioso e conhecido:

- Boneco de Lata!!!

E mais outro:

- Boneco e Boneca de Lata!!! He he he!

Daqui a pouco era um coro só, cheio de risos, enchendo o ambiente hospitalar de uma alegre sinfonia, fazendo todos pararem de pensar em suas chagas e olharem contendo o sorriso.

- Oi Boneco de Lata, tu tá bonito, eim?

Era Amanda, se contendo numa mangação só, pela vestimenta com que nós nos apresentávamos.

Aí foi uma festa. Abraçamos e beijamos todos com suas mães maravilhosas que desses pequeninos não se afastam e rimos juntos. Foi muito bom.

Em seguida fomos para o nosso compromisso.

A secretária de Dr. João já foi me adiantando que o Diretor já estava a nossa espera.

Quando entramos em sua sala ele com o maior ar de riso disse:

- Eu pensei que esse povo de lata não viria mais. Você se incomoda de eu lhe chamar de Boneco de Lata?

Nem parei nem para me justificar, lembrando da recepção da criançada, apenas olhei para Raquel e em coro dissemos:

- Bonecos de Lata com muita honra!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O MILAGRE DO AMOR = por Merlânio Maia

Se conviver com crianças e mães já traz em si um encanto todo especial, imagina com mães de crianças portadoras de câncer?

Quando o câncer é diagnosticado, começa o calvário da família inteira. Vi homens que largaram suas famílias a partir da descoberta de tal fato. Foram desgraçadamente covardes. Homens de pequena estatura moral.

Como disse, o aprendizado que se tem dentro de um hospital de câncer não tem tamanho, de tão grande.

Assim como vi pais fracos, vi mães de um amor tão imenso e de uma grandeza tão especial que só se explica com a onipresença de Deus.

Outro dia, vi uma mãezinha bonita, com pouco mais de trinta anos, trazia uma cabeleira basta, ondulada, cheia de brilho, bem cuidada... linda!

Sua filha jovem, pouco mais de doze anos já sem cabelos, por conta da quimioterapia, reclamava da falta de cabelos, chateadíssima!

Naquele sábado fizemos nosso trabalho com muita alegria, dando uma força a todos, inclusive aquela mãe maravilhosa, como as outras tantas, todas heroínas de cada dia.

Terminando, seguimos nossa vida esperando o próximo sábado.

No outro sábado, tivemos uma surpresa atada a uma emoção comovente. Não havia como não chorar. Aquela menina, antes careca e triste, ostentava, agora, na sua felicidade incontida, uma cabeleira negra linda, linda, lindíssima! E a mãezinha estava careca, carequíssima, com a cabeça totalmente raspada. Mas ostentava uma alegria que a tornava ainda mais bela.

O milagre do amor. Aquela mãezinha, naquele mesmo sábado, foi ao cabelereiro e mandou raspar seu cabelo para fazer a peruca negra da sua pequena doente.

E agora, ambas, pareciam, até, mais cheias de vida, iluminadas!

O que seria do mundo sem os sacrifícios das mães?