terça-feira, 4 de dezembro de 2007

HISTÓRIAS DA VIDA = Merlânio Maia

Nesse espaço de tempo que venho trabalhando com crianças portadoras de câncer, cada momento é novo, cada um tem a sua história, seu jeito, suas manhas e manhãs, sem falar nas experiências fora do Hospital.

Algumas vezes, quando tenho oportunidade de fazer palestras, sobre o Boneco de Lata em colégios, empresas, associações, etc. Fica evidente que ninguém mais me trata normal. Às vezes me sinto um ET, visto que alguns me olham com a cara de espanto, outros de devoção, outros de admiração e respeito, mas do jeito que cheguei não há como sair mais.

Tempos atrás, quando estava no começo do Boneco de Lata, que eu ia sozinho com meu violão para a Pediatria do Hospital, cheguei a convidar pessoas para me acompanharem na faina sagrada do brincar; porém as experiências eram as mais dolorosas. Um amigo meu, chegou e me disse: Merlânio, preciso acompanhá-lo nesse trabalho do Hospital, há algum mal nisso?

Não! Foi minha resposta. E assim fomos.

Era um domingo de manhã e ele comprou alguns brinquedos para distribuirmos e eu estava adorando sua motivação. Fiquei tão envolvido com tanto brinquedo que, ao chegar à Pediatria, corri feito um louco para distribuir presentes e rever meus “velhos-pequenos” amiguinhos.

E contei histórias e cantei e, óbvio, entreguei os presentes e depois de algum tempo lembrei do meu amigo. Procurei, procurei e nada... Sondei as enfermarias e ... nada.

Então pedi licença e desci do primeiro andar e foi ali que o encontrei na pracinha com os olhos vermelhos incandescentes e soluçando sem parar.

- Não, Merlânio, dizia entre os soluços, não posso ver essas crianças. Com criança eu não fico que é muito doloroso.

Eu o abracei e lhe disse: - Calma, fulano, o importante é ser feliz, pois quem é que em sã consciência pode dizer que tem mais que o presente pela frente?

Me despedi dele com um abraço e voltei a faina sagrada do brincar, mas ficou uma lição no meu coração e nunca mais levei pessoas para conhecer o trabalho sem antes preparar seu espírito, pois nem todos podem ver Deus no tempo de cada um, bem como entender que o tempo presente é o maior presente doado pela vida para sermos intensamente felizes. Agora!

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