terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O MILAGRE DO AMOR = por Merlânio Maia

Se conviver com crianças e mães já traz em si um encanto todo especial, imagina com mães de crianças portadoras de câncer?

Quando o câncer é diagnosticado, começa o calvário da família inteira. Vi homens que largaram suas famílias a partir da descoberta de tal fato. Foram desgraçadamente covardes. Homens de pequena estatura moral.

Como disse, o aprendizado que se tem dentro de um hospital de câncer não tem tamanho, de tão grande.

Assim como vi pais fracos, vi mães de um amor tão imenso e de uma grandeza tão especial que só se explica com a onipresença de Deus.

Outro dia, vi uma mãezinha bonita, com pouco mais de trinta anos, trazia uma cabeleira basta, ondulada, cheia de brilho, bem cuidada... linda!

Sua filha jovem, pouco mais de doze anos já sem cabelos, por conta da quimioterapia, reclamava da falta de cabelos, chateadíssima!

Naquele sábado fizemos nosso trabalho com muita alegria, dando uma força a todos, inclusive aquela mãe maravilhosa, como as outras tantas, todas heroínas de cada dia.

Terminando, seguimos nossa vida esperando o próximo sábado.

No outro sábado, tivemos uma surpresa atada a uma emoção comovente. Não havia como não chorar. Aquela menina, antes careca e triste, ostentava, agora, na sua felicidade incontida, uma cabeleira negra linda, linda, lindíssima! E a mãezinha estava careca, carequíssima, com a cabeça totalmente raspada. Mas ostentava uma alegria que a tornava ainda mais bela.

O milagre do amor. Aquela mãezinha, naquele mesmo sábado, foi ao cabelereiro e mandou raspar seu cabelo para fazer a peruca negra da sua pequena doente.

E agora, ambas, pareciam, até, mais cheias de vida, iluminadas!

O que seria do mundo sem os sacrifícios das mães?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O BONECO E A BONEQUINHA DE LATA


HISTÓRIAS DA VIDA = Merlânio Maia

Nesse espaço de tempo que venho trabalhando com crianças portadoras de câncer, cada momento é novo, cada um tem a sua história, seu jeito, suas manhas e manhãs, sem falar nas experiências fora do Hospital.

Algumas vezes, quando tenho oportunidade de fazer palestras, sobre o Boneco de Lata em colégios, empresas, associações, etc. Fica evidente que ninguém mais me trata normal. Às vezes me sinto um ET, visto que alguns me olham com a cara de espanto, outros de devoção, outros de admiração e respeito, mas do jeito que cheguei não há como sair mais.

Tempos atrás, quando estava no começo do Boneco de Lata, que eu ia sozinho com meu violão para a Pediatria do Hospital, cheguei a convidar pessoas para me acompanharem na faina sagrada do brincar; porém as experiências eram as mais dolorosas. Um amigo meu, chegou e me disse: Merlânio, preciso acompanhá-lo nesse trabalho do Hospital, há algum mal nisso?

Não! Foi minha resposta. E assim fomos.

Era um domingo de manhã e ele comprou alguns brinquedos para distribuirmos e eu estava adorando sua motivação. Fiquei tão envolvido com tanto brinquedo que, ao chegar à Pediatria, corri feito um louco para distribuir presentes e rever meus “velhos-pequenos” amiguinhos.

E contei histórias e cantei e, óbvio, entreguei os presentes e depois de algum tempo lembrei do meu amigo. Procurei, procurei e nada... Sondei as enfermarias e ... nada.

Então pedi licença e desci do primeiro andar e foi ali que o encontrei na pracinha com os olhos vermelhos incandescentes e soluçando sem parar.

- Não, Merlânio, dizia entre os soluços, não posso ver essas crianças. Com criança eu não fico que é muito doloroso.

Eu o abracei e lhe disse: - Calma, fulano, o importante é ser feliz, pois quem é que em sã consciência pode dizer que tem mais que o presente pela frente?

Me despedi dele com um abraço e voltei a faina sagrada do brincar, mas ficou uma lição no meu coração e nunca mais levei pessoas para conhecer o trabalho sem antes preparar seu espírito, pois nem todos podem ver Deus no tempo de cada um, bem como entender que o tempo presente é o maior presente doado pela vida para sermos intensamente felizes. Agora!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

DONAS DE AMANHÃS





DONAS DE AMANHÃS
Merlânio Maia

As minhas crianças
São cheias de encanto,
De alegre acalanto,
De brilho e calor...
Tão especiais
Iguais às crianças
De cabelos, tranças...
Repletas de amor

São minhas Amandas,
João, Daniel,
Lucas, Isabel,
Thiago, Luana,
Rodrigo e Carla,
Rafael, Mayara,
Virgínia e Mara,
Val, Edna e Ana...

Suas gargalhadas
Ecoam no espaço
Dançam no compasso
Vivem a cantar
Fazem traquinagens
Gritam, soltam pum,
Sem motivo algum
Saem a requebrar

Todas são carecas
Doces bagunceiras
Suas brincadeiras
Também tão iguais
Às da criançada
De todas as cores
Também sentem dores
São normais, normais!...

Mas não são tão livres
Pois o seu futuro
Se esbarra num muro
Branco hospitalar
Elas portam câncer
Lutam todo o dia
Contra a tirania
Que as vem devastar

Luta dura, infame,
Luta fatigante
Luta tão gigante
Luta desigual
Luta tão constante,
Luta bruta e forte,
Luta contra a morte
Luta desleal!

E tome coragem,
Tome valentia,
Pois a terapia,
As enchem de ais
QT, ânsia, enjôo,
Agulhas e exames,
Pra que a morte infame
Não vença jamais

São tão pequeninas
E as vejo vencendo,
As vejo crescendo,
E as vejo tão sãs
São os meus amores
Meninos, meninas,
Crianças divinas
Donas de amanhãs!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

quarta-feira, 14 de novembro de 2007


LÁ VEM O TRENZINHO CHINÊS!

SÁBADO DE ARTE E SONHO

Sábado - dia do Boneco de Lata; dia de sonhar e ser feliz junto a criançada da Pediatria do Hospital Napoleão Laureano. desde manhã bem cedo já começamos os preparativos: roupas, violão, ensaio de novas músicas, pesquisamos novas histórias e esperamos ansiosos para vê-los mais um dia.

São donos de amanhãs.

E uma mãe me disse: - Boneco, o importante é ser feliz hoje, pois amanhã ainda está longe e a felicidade não pode esperar.

- Então vamos cantar! Eu disse.

São os sábados mágicos em que o canto e o conto fazem o choro se esvair, a dor se diluir, o coração sentir, e a boca gargalhar e o corpo todo rir.

Nossos sábados de sonho são importantes e a arte de brincar se faz urgente.

É muito comum as enfermeiras aproveitarem os momentos de alegria para aplicar injeções e pegar as veias das crianças, pois elas estão tão envolvidas na alegria que se tranquilizam e sua dor é minorada pela canção.

E foi depois de viver essa felicidade coletiva das crianças, das mães e dos funcionários daquele Hospital que aprendi a ser feliz agora, já! E nunca mais parar de cantar.

Amanhã ainda está longe para quem pensa a felicidade, não como um fim almejado, mas como o ato de caminhar. E se ele, o amanhã, vier, então o receberei com alegria, pois sei que serei o seu dono.

Daqui a pouco chegará outro sábado de Boneco de Lata na pediatria do Hospital de combater ao Câncer, lugar onde a alegria se faz com toda a pujança e como somente há a felicidade, ninguém mais esquece esses momentos.

São os Sábados de Arte e Sonho!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007


COMPANHIA DO BONECO DE LATA

- Lá vem meu Boneco de Lata!!!

- Lá vem meu Boneco de Lata!!!

Era a voz de Thiaguinho, menino lindo de quatro anos de idade e olhos verdes que todos os sábados à tarde nos esperava cheio de alegria. Uma alegria que tinha uma importância especial para todos nós que trabalhávamos voluntariamente no Hospital Napoleão Laureano, instituição referência em combate ao câncer e João Pessoa/PB e em toda a região.

Tudo porque no nosso repertório havia a música "Meu Boneco de Lata". E foi assim que o nosso pequeno grupo de artistas que levávamos a alegria para a Ala de Pediatria do Hospital, ganhou um nome. Foi dos gritos de Thiago que saiu nosso batismo:

A CIA. DO BONECO DE LATA!

Éramos a companhia deles e eles a nossa. Com toda honra possível e imaginável Thiago de lindos olhos verdes nos batizou.

Aprendemos no dia-a-dia o quanto é importante o trabalho da Cia do Boneco de Lata. Levamos alegria, canto, conto, brincadeiras e orações para as crianças portadoras de câncer. Tudo é festa, porém uma coisa fica dentro deles que é o nosso amor e a crença de que o importante é ser feliz.

E estas crianças fazem parte da nossa vida e alimentam a nossa alma e não conseguimos mais viver sem ter seus sorrisos e suas alegrias compartilhadas. Porque o importante é ser feliz!

Pois foi uma delas que nos batizou e é com a maior honra que somos hoje e sempre: BONECOS DE LATA!